segunda-feira, setembro 27, 2010

Vivendo no mundo

“Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele; porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo.” I João 2:15

Meu filho não quer nascer... Minha esposa está um pouco ansiosa porque duas conhecidas que engravidaram na mesma época já estão em seus lares com seus filhos. O pior é que ainda não há nenhum sinal evidente. Não há qualquer dilatação, o bebê não desceu e o colo do útero continua grosso. Não posso condená-lo... se eu fosse ele também retardaria ao máximo a minha chegada a este mundo. Porém, descobri neste processo, que se o nenê demora demais pra sair o perigo de um aborto vai aumentado progressivamente. Não tem jeito. Mesmo que ele não queira, vai ter que sair.

Ao longo do tempo, o cristianismo tem apresentado algumas linhas de pensamento aonde se propõem definir o papel da igreja neste mundo. Gostaria de mencionar três linhas gerais:

A igreja contra cultura: de acordo com essa abordagem, o mundo é visto como ambiente hostil para a fé cristã. A igreja se apresenta como uma comunidade que recusa qualquer interação com o sistema. Essa reclusão se manifesta de várias formas como não usar roupas da moda, corte de cabelos modernos, esmalte, depilação, bens, televisão, rádio ou cinema. Eles sugerem que a vida cristã deve ser vivida em total desconexão do mundo.

A igreja na cultura: Indo para o outro extremo, muitos defendem o conceito de que o cristão tem um papel fundamental na sociedade em que se está imerso. O papel da igreja é de influenciar e trazer valores espirituais nas questões desta terra. Pensando dessa maneira, muito do que se chama de “gospel” invadiu a cultura secular: boates, filmes, pagode, danças, empresários, política e tantas outras coisas recebem uma identificação evangélica para diferenciar suas intenções, motivações e princípios. Infelizmente, a história tem demonstrado, que tem sido mais fácil o mundo profanar a Igreja do que a Igreja santificar o mundo.

A igreja e a cultura em paralelo: uma posição mais moderada propõe que o cristão deve viver uma vida civil digna e respeitosa podendo usufruir das tecnologias e comodidades que se oferecem, sem, contudo, se esquecer do seu chamamento celestial. A igreja deve esperar viver certo grau de tensão com o mundo uma vez que haverá, inevitavelmente, um choque entre os dois reinos: “o reino do mundo” e o “reino de Deus”. A igreja então vive uma luta para discernir essas duas realidades tão distintas em seus ideais e propostas. Deve-se aceitar os padrões de Deus mesmo que não sejam aceitos pelo mundo ou pela sociedade. E, em muitos momentos de opressão, deverá lembrar-se que são peregrinos e ainda não chegaram ao seu destino final.

Entender qual é o nosso papel neste mundo é fundamental para termos uma mente esclarecida que não é enganada diante de heresias camufladas em verdades bíblicas. Entendo que não fomos chamados para nos escondermos do mundo. Vivemos nesse mundo apesar de não pertencermos ao mundo: “Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal. Eles não são do mundo, como também eu não sou” (Jo 17: 15,16). Como faremos para estudar, trabalhar ou participar de uma reunião de condomínio? Devemos interagir com os incrédulos no nosso dia-a-dia como Paulo diz: diz: “refiro-me, com isto, não propriamente aos impuros deste mundo, ou aos avarentos, ou roubadores, ou idólatras; pois, neste caso, teríeis de sair do mundo” (I Co 5: 10). Porém, jamais devemos nos esquecer que Jesus Cristo “se entregou a si mesmo pelos nossos pecados, para nos desarraigar deste mundo perverso, segundo a vontade de nosso Deus e Pai” (Gl 1:4) e que através da cruz de Cristo ”o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo” (Gl 6:14).

Meu filho terá que nascer. Não irá adiantar tentar se esconder ou fugir deste mundo. Assim como todos nós, ele terá que descobrir qual é a história da humanidade e quais são as leis universais que regem esse sistema e tomar as suas decisões.

Não parece ser um caminho fácil: “Porque, embora andando na carne, não militamos segundo a carne” (II Co 10:3). Entendermos que não devemos ter qualquer ambição neste mundo nos inclinará para as coisas celestiais. Se a máscara deste mundo cair veremos apenas lepra e impureza. Estaremos livres de toda aparência e engano e estaremos libertos dos grilhões deste mundo apesar de ainda vivermos nele.

“Isto, porém, vos digo, irmãos: o tempo se abrevia; o que resta é que não só os casados sejam como se o não fossem;mas também os que choram, como se não chorassem; e os que se alegram, como se não se alegrassem; e os que compram, como se nada possuíssem; e os que se utilizam do mundo, como se dele não usassem; porque a aparência deste mundo passa.” I coríntios 7: 29 – 31