terça-feira, agosto 10, 2010

Consciência

“Porque a nossa glória é esta: o testemunho da nossa consciência, de que, com santidade e sinceridade de Deus, não com sabedoria humana, mas, na graça divina, temos vivido no mundo e mais especialmente para convosco.” II Coríntios 1:12

Mais uma vez preciso pedir perdão à minha esposa. Por que agi dessa maneira? Mais uma vez sei que errei e necessito dizer a ela que eu sei que errei e me arrependo por isso. Ela está dentro do quarto lendo alguma coisa – não sei se ela quer mesmo ler – acho que ela simplesmente não quer ver a minha cara. Bato na porta e entro no quarto. Ela continua sem olhar pra mim e eu começo a dizer que não procedi corretamente que estou arrependido e que gostaria que ela me perdoasse. Como que por um passe de mágica, a expressão dela muda. A expressão do rosto suaviza e ela me pergunta se eu quero que ela faça um capuccino pra mim. Sinto-me como tirando do pé um sapato apertado ou uma mochila com 20 kilos de pedras das costas. Pensando bem não foi mágica – foi o Espírito Santo.

Esse tipo de situação é mais comum na minha vida do que eu gostaria. E acaba que eu não consigo acostumar. Todas as vezes que eu preciso pedir perdão é uma via dolorosa e mortal para o meu orgulho. Como um perito advogado de defesa, minha consciência tenta analisar o contexto: “Eu agi mal mas olha só o que ela fez!” ou “eu errei mas ela errou muito mais do que eu” porém, o veredicto sai e a minha consciência decreta: “você errou.”

Todo homem foi equipado por Deus com uma qualidade chamada consciência. Através dela cada um de nós consegue perceber intuitivamente sobre o que é certo e o que é errado. “Estes mostram a norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se” (Rm 2:15). A função da nossa consciência é nos acusar ou nos defender diante das situações que vivenciamos. Quando erramos ela nos acusa quando entendemos que agimos corretamente ela nos defende. O interessante é que a nossa consciência não é órgão pronto – ela se desenvolve à medida que compreendemos como as coisas são. E, da mesma forma que uma criança não possui a mesma capacidade de legislar corretamente sobre as leis dos homens como um Desembargador, assim também um novo convertido terá que uma consciência mais fraca do que um servo do Senhor com anos de peregrinação. Por isso que vemos nas escrituras passagens sobre consciências mais fracas do que outras (I Co 8:7,12). A consciência é individual e pessoal. Cada um de nós possui um grau distinto de sensibilidade e obediência. Portanto, a consciência, é um canal poderoso e importante de comunicação direta do Espírito Santo com o espírito do homem. Termos uma boa consciência diante de Deus e dos homens é um importante sinal de que temos ouvido a voz do Espírito: “Por isso, também me esforço por ter sempre consciência pura diante de Deus e dos homens” (At 24:16).

Porém, quando o homem passa a desprezar a orientação do Espírito a sua consciência começa a ficar anestesiada ou cauterizada e não consegue mais ouvir a voz de Deus: “pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada a própria consciência” (I Tm 4:2). A conseqüência da nossa desobediência é que a nossa própria consciência, que deveria nos auxiliar no caminho da santidade, se corrompe: “Todas as coisas são puras para os puros; todavia, para os impuros e descrentes, nada é puro. Porque tanto a mente como a consciência deles estão corrompidas” (Tt 1:15). O que fazer quando já não ouvimos as instruções do Espírito? Como seremos repreendidos e transformados se eu desprezo as considerações do Espírito de Deus? “Não entristeçais o Espírito de Deus” (Ef 4:30). E ainda: “Não apagueis o Espírito” (I Ts 5:19). São referencias que deveriam causar uma temerosa reflexão de como tenho procedido.

Existe um sinal que acredito que possa nos ajudar a perceber se a nossa consciência está cauterizada – quantas vezes pedimos perdão uns aos outros. Todos nós falhamos “porque todos tropeçamos em muitas coisas” (Tg 3:2) e pecamos “Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós” (I Jo 1:8). Ora, uma vez que sou falho, então eu não deveria pedir perdão constantemente? Será que o Espírito não tem tentado muitas e muitas vezes me alertar dos meus hábitos, costumes e atitudes e eu não tenho escutado? Pedir perdão é um sinal de vitória e não de derrota. É o reconhecimento de uma alma imperfeita de que ouviu a voz de Deus e que se arrependeu. É a resposta sincera e objetiva de uma consciência sensível que prefere subjugar seu orgulho à perder, por um segundo sequer, a preciosa comunhão com o Espírito Santo.

Muitos andam por aí como se não errassem e nunca se arrependem dos seus atos. Adaptaram a sua consciência para não mais ouvirem a voz corretiva de Deus e passam a praticar obras antes condenadas por eles “O cão voltou ao seu próprio vômito; e: A porca lavada voltou a revolver-se no lamaçal” (II Pe 2: 22). Nunca pedem perdão e, é justamente por isso, que um dia terão que pedir perdão.

“mantendo fé e boa consciência, porquanto alguns, tendo rejeitado a boa consciência, vieram a naufragar na fé.” I Timóteo 1:19