segunda-feira, janeiro 28, 2008

Gratidão

“Estás ciente de que todos os da Ásia me abandonaram; dentre eles cito Figelo e Hermógenes. Conceda o Senhor misericórdia à casa de Onesíforo porque muitas vezes me deu ânimo e nunca se envergonhou das minhas algemas. Antes tendo chegado a Roma me procurou solicitamente até me encontrar. O Senhor lhe conceda, naquele dia, achar misericórdia da parte do Senhor. E tu sabes melhor do que eu, quantos serviços me prestou ele em Éfeso. ” II Timóteo 1:15-18

Olhando para trás tento perceber o quanto de gratidão tenho em meu coração pelo serviço que várias pessoas já prestaram em meu favor. E, se a Bíblia afirma que nos últimos dias os homens serão ingratos (II Tm 3:2), então percebo que a minha atenção para com esse assunto deve redobrar.

Gratidão é a qualidade de estar grato ou o reconhecimento por um benefício recebido. Sendo assim, devemos sempre ter um coração grato para com Deus: “pois Ele mesmo quem a todos dá vida, respiração e tudo mais” (At 17:25). Além disso Deus revelou ao homem Seu propósito e Sua salvação através da obra redentora do calvário. Paulo ordenou aos Colossenses: “louve a Deus com salmos e hinos e cânticos espirituais, com gratidão em vossos corações” (Cl 3:16). Quanto mais dependente for nossa alma maior será a sua capacidade de reconhecer as bênçãos divinas; “Bendize ó minha alma ao Senhor e não se esqueça de nem um só de seus benefícios” (Sl 103:2) – é o clamor de Davi para que sua alma tenha uma boa memória e possa reconhecer a bondade de Deus.

Também precisamos nos exercitar em reconhecer os benefícios que recebemos uns dos outros. Paulo na passagem acima, menciona explicitamente a Timóteo, sua gratidão pela vida de Onesíforo. O grande apóstolo dos gentios; talvez o homem mais usado na história do cristianismo, no final da sua vida, ainda é capaz de reconhecer os serviços dos outros em favor dele. É interessante destacar o que o nome de Onesíforo significa – portador de préstimos. Deus sempre colocará ao nosso redor pessoas portadoras de Suas bênçãos.

Contrastando com o exemplo de Onesíforo, Paulo menciona sobre a perturbação que Alexandre, o latoeiro, trouxe a sua vida. Alexandre foi um blasfemador (I Tm 1:20), de coração resistente (II Tm 4:15) e causador de muitos males (II Tm 4:14). Também acho interessante destacar o oficio de Alexandre – latoeiro ou funileiro. Alexandre não apenas fazia funis mas também afunilou sua gratidão. Paulo, que passara quase dois anos em Éfeso, pregando, ensinando e correndo risco de vida (At 19) agora se via confrontado por, provavelmente um de seus filhos na fé. E assim como um funil, Alexandre que tanto recebeu não aprendeu a dar proporcionalmente. Reteve mais do que devia e por isso mesmo perdeu o santo equilíbrio.

Quando estudava o livro de Timóteo voltei minha atenção para essa questão da gratidão: será que tenho reconhecido e honrado adequadamente os “Onesíforos” que Deus tem levantado ao longo da minha jornada? Cada palavra de instrução, cada palavra de admoestação, cada palavra de consolo, cada oração feita em meu favor, cada visita, cada sorriso... Será que tenho esquecido os muitos benefícios que tenho recebido ao ponto de afunilá-los e perceber apenas poucos?

Pensando nesse assunto, pude me recordar de tantos nomes: das professoras da minha infância na escola dominical que me ensinaram as primeiras histórias bíblicas, dos tantos irmãos que me apascentaram e guiaram na minha adolescência, na minha mocidade e o fazem ainda hoje. Da minha saudosa avó e dos meus amados pais. Naquele momento pude agradecer a Deus por cada nome que veio à minha mente. Assim como Paulo fez por Onesíforo, também orei pelos meus irmãos para que Deus conceda misericórdia a eles e os recompensem quando aquele dia chegar.

Pensando ainda sobre essa questão de termos um coração grato e honrarmos uns aos outros conclui que isso alegra o coração de Deus porque Ele também é, por natureza, um ser dadivoso. Deus é como um funil ao contrário; o pouco que Lhe oferecemos Ele nos devolverá derramando muito mais do que merecemos. O homem oferece a Deus dentro da sua medida. Deus, por seu lado, nos devolve dentro da Sua.

“Amai, porem os vosso inimigos, fazei o bem e emprestai sem esperar nenhuma paga; será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo. Pois ele é benigno até para com os ingratos e maus. Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai. Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados; dai e dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão.” Lucas 6:35 - 38

terça-feira, janeiro 22, 2008

Único

“Alegrai-vos porque os vossos nomes estão arrolados nos céus.” Lucas 10:20

Vivemos muitas vezes influenciados pela opinião dos outros. Passamos muito tempo nos esforçando para sermos como as pessoas esperam que sejamos. Assim, corremos o risco de sermos alguém que simplesmente não somos. Violentamos os nossos sentimentos e a nós mesmos, desprezamos nossos talentos naturais porque queremos ter os talentos da pessoa ao lado.

Por muitos anos acreditei que um cristão maduro deveria ser uma pessoa sisuda e sombria. Pelo fato de ter seus sentimentos sob controle, o cristão maduro não poderia nunca dar uma gargalhada ou chorar copiosamente porque seria uma demonstração patente de carnalidade. Então me esforçava para tentar ser alguma coisa que, essencialmente, era forçado e não natural.

Quando lemos as escrituras, percebemos uma infinidade de histórias e personagens que tinham temperamentos peculiares. Para tentar ser mais claro, usarei a nomenclatura que Tim LaHaye explica no seu livro: “Temperamento controlado pelo Espírito.” Ele explica que, basicamente, existem quatro tipos de temperamentos:

Sanguíneo. O sanguíneo é uma pessoa sempre bem disposta, animada, cordial e amiga. Porém é inconstante emocionalmente, negligente e imprudente. Um bom exemplo é o apóstolo Pedro que, em muitas situações, falou sem pensar e agiu impulsivamente.

Colérico. Pessoa com muita força de vontade, firme, decidido e de aguçado raciocínio. Naturalmente ele é um grande líder no seu meio. Mas também ele é violento, cruel, impetuoso e auto-suficiente. Antes de sua conversão, o apóstolo Paulo se mostrou um ótimo exemplo do colérico: forte em seus ideais ao ponto de perseguir e consentir com a morte daqueles que não concordavam com ele.

Melancólico. Pessoa perfeccionista, metódica e introspectiva. Os maiores gênios da história da humanidade foram melancólicos. São altamente analíticos e reservados. Mas também são egoístas, pessimistas e inseguros. O apóstolo Tomé é um bom exemplo. Ele mostrou seu pessimismo ao pensar que morreria em Betânia como aconteceu com Lázaro (Jo 11:16) e depois mostrou toda a sua insegurança sendo o apóstolo mais incrédulo entre os onze quanto à ressurreição de Cristo.

Fleumático. Geralmente são pessoas espirituosas, práticas e eficientes. São bons observadores e por isso bons conselheiros. Aparenta ser o temperamento mais equilibrado de todos porém eles são morosos, indolentes, provocadores e covardes. Abraão, é uma boa ilustração. Este patriarca foi dominado pelo medo a maior parte de sua existência. Sendo que, duas vezes, ele negou que Sara fosse sua esposa com medo de ser morto.

Observando a vida do Senhor Jesus percebemos o perfeito equilíbrio no perfeito varão. Ele reunia todas as qualidades dos temperamentos. Mas e quanto a nós? Existe um temperamento melhor do que o outro? Creio que a resposta é não. Todos temperamentos possuem qualidades e defeitos. Precisamos permitir que o Espírito Santo controle nosso temperamento. Quando isso acontece daremos um belo testemunho de Deus independente da nossa personalidade. Foi dessa maneira que Pedro tornou-se em um grande líder da Igreja primitiva aprendendo a ser mais prudente e fiel. Paulo deixou seu perfil implacável sendo drasticamente transformado em uma pessoa maleável e dócil. O inseguro Tomé tornou-se em uma poderosa testemunha do Senhor sendo martirizado na Índia e Abraão aprendeu a andar pela fé não pela razão. Na verdade, o Espírito Santo possui uma força diferente para cada fraqueza do homem.

Parei de tentar ser o que não sou. Minhas digitais e arcada dentária são provas materiais da minha individualidade. Ter o meu nome escrito no Livro da Vida e arrolado nos céus é uma prova espiritual que sou único diante de Deus. Quando tento negar quem eu sou desprezo a obra do Deus como meu Criador e rejeito a obra de santificação que Ele deseja realizar como meu Deus Redentor.

Quando compreendo essa lição também passo a apreciar mais meus irmãos porque reconheço neles características que eu nunca terei. E, quando somos controlados pelo Espírito, juntos podemos dar um testemunho harmonioso e singular da nossa pluralidade e, ao mesmo tempo, dar um testemunho plural da nossa singularidade.

Quando encontramos com o Senhor ficaremos surpreendidos com essa verdade: que embora sendo muitos, cada peregrino é único diante Dele.


“Ao vencedor dar-lhe-ei do maná escondido, bem como lhe darei uma pedrinha branca e sobre essa pedrinha escrito um nome novo, o qual ninguém conhece, exceto aquele que o recebe.” Apocalipse 2:17

segunda-feira, janeiro 14, 2008

Calafrios

Senhor, para quem iremos? tu tens as palavras de vida eterna. João 6:68

Naturalmente não sou uma pessoa muito ansiosa ou estressada, mas já tive meus calafrios emocionais. Aqui, não estou mencionando os calafrios que temos quando estamos febris ou quando sentimos frio. Estou chamando de calafrio emocional aquela sensação estranha que sentimos quando pensamos em situações difíceis do cotidiano e que parece correr por todo nosso corpo terminando com uma fincada bem no coração. Lembro-me dos meus calafrios na época de engenharia quando deitava na cama e sabia que não estava preparado para a prova de cálculo no dia seguinte ou quando pensava no meu namoro que estava a beira do fim ou quando calculava meus custos e via que não teria dinheiro para pagar todas as contas do mês. Se eu sou uma pessoa normal (e eu acho que sou) acredito que outras pessoas também já tiveram seus calafrios emocionais. Sendo assim, no começo de mais um ano eu me perguntei – hoje, o que me faz ter calafrios? Li uma frase atribuída ao Santo Agostinho que diz: “O calafrio que você sente quando pensa em não ver mais a face de Deus é proporcional ao seu amor por Ele.”

Ao ler essa frase perdi a graça. Me senti como que atravessado por uma flecha. Eu estava de férias porém me senti cansado. Apesar da aparente tranqüilidade me senti sobrecarregado. Fechei o livro na hora. Sabia que alguma coisa havia me capturado e que eu precisava parar para meditar. Não sei porque mas naquele momento fiz uma viagem ao meu passado. Tentei me lembrar dos momentos mais felizes da minha vida. E o que eu percebi foi surpreendente – todos os meus momentos marcantes estão diretamente relacionados com Deus. Pude perceber que, por melhor que seja possuir coisas, não tenho saudades de nenhuma delas como meu primeiro carro, videogame ou bicicleta. Olhando para trás vi que nada disso marcou a minha vida. Tudo isso é descartável porque é passageiro. Ao mesmo tempo percebi que todas as coisas na minha vida que são verdadeiramente preciosas possuem a participação ativa de Deus. Amizades, casamento, igreja ou qualquer outra coisa não me marcará profundamente se Deus não estiver entronizado em cada uma delas. Tudo passará e será pura vaidade. Só Ele tem as palavras de vida eterna. Apenas o próprio Deus, e mais nada ou ninguém, poderá depositar em meu coração experiências que nunca passarão.

Conclui (mais uma vez) que vale a pena investir em buscar a face de Deus. Se os melhores momentos do meu passado foram com Ele devo intensificar minha busca por Ele para que meu futuro seja ainda melhor. Preciso renovar o meu chamado para andar por essa terra como um peregrino me desapegando cada vez mais do que é terreno e me aproximando do que é eterno, invisível e espiritual “não atentando nós nas cousas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais e as que se não vêem são eternas” (II Co 4:18). Buscar a face de Deus deve ser a minha maior ambição.

Naquela tarde meditando na frase de Agostinho fiquei inquieto em responder para mim mesmo essa pergunta: mais um ano se passou e um novo ano se inicia... e o meu Senhor ainda não retornou... nesses dias em que Sua vinda se apresenta tão iminente o que me faz ter calafrios?

“Conjuro-vos ó filhas de Jerusalém, se encontrardes o meu amado, que lhe direis? Que desfaleço de amor.” Cantares 5:8