domingo, novembro 26, 2006

Situações de mundo caído

“Ou cuidais que aqueles dezoito, sobre os quais desabou a torre de Siloé e os matou, eram mais culpados que todos os outros habitantes de Jerusalém? Não eram, eu vo-lo afirmo; mas, se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis.” Lucas 13: 4-5

Semana passada foi noticiada o trágico assassinato de um missionário brasileiro da Assembléia de Deus morto em algum país Africano. Lembrei-me do relato emocionado de um pastor que contou sobre a história de uma irmã que, ouvindo um chamado para missões, abandonou a faculdade e dedicou-se inteiramente ao estudo da cultura, língua e hábitos do país em que iria trabalhar. Foram longos anos de preparação e esforço. Quando finalmente chegou ao país de destino, morreu ao sair do aeroporto quando o carro que a levava passou sobre uma mina.

Poderíamos ficar horas a fio citando experiências dolorosas que cercam as nossas vidas em todo o tempo. A tristeza de estar grávida de um bebê sem cérebro, a necessidade de amputar uma perna por motivos de doença ou lidar com o câncer de um parente próximo são situações corriqueiras para todos nós. A nossa mente racional tenta encontrar alguma resposta lógica para essas situações; buscamos por consolo através de respostas que, muitas vezes, Deus não nos dará. Foi assim no passado com Jó e seus amigos. Deus não se preocupou em responder às dúvidas de Jó, Antes, pelo contrario, demonstrou a diferença que existe entre Sua mente e o entendimento humano: “Quem é este que escurece os meus desígnios com palavras sem conhecimento? Cinge pois, os teus lombos como homem, pois, eu te perguntarei e tu me farás saber. ” (Jó 39:2-3). Foi assim também na época de Cristo. As pessoas procuravam ao Senhor buscando respostas para suas tragédias. Uma torre caiu matando dezoito pessoas. O que eles fizeram de errado? Foi um castigo de Deus? A resposta do Senhor foi clara: eles não eram mais culpados do que qualquer outro habitante de Jerusalém. Nós, homens limitados de entendimento, especulamos sobre situações que estão fechadas para nós.

A perplexidade do homem diante das desgraças da vida é explicada claramente pela Bíblia. As doenças, tumores, tragédias, violência são fruto da escolha do homem. Vivemos em um mundo amaldiçoado. Os nossos corpos se corrompem diariamente (II Co 4:16) lembrando-nos que ainda não chegamos em nosso lar eterno. Satanás, o grande usurpador do governo deste mundo, só oferece o que é dele próprio: roubo, morte e destruição. O próprio Senhor Jesus não prometeu aos seus discípulos que teriam privilégios ou seriam livres da maldição que impera sobre este planeta. Ele disse: “no mundo passais por aflições” (Jo 16:33) e ainda: “Deus faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos” (Mt 5:45).

Parando para pensar a respeito do meu cotidiano, cheguei na conclusão que eu deveria ficar perplexo com as bênçãos do dia-a-dia e não com as desgraças. Isso porque a morte é o salário do pecado do homem, porém a vida é uma prova indescritível da longanimidade de Deus. Olhando por essa ótica, consigo enxergar as situações de um outro prisma: cada dia de vida que temos é um milagre. Cada criança que nasce saudável dá testemunho das infinitas misericórdias de Deus para com o homem. Cada momento de alegria que vivemos, cada noite de sono bem dormida, cada refeição feita, me fala da bondade de Deus em me oferecer bênçãos naturais em um mundo caído.

Ainda tenho dúvidas. Ainda não tenho resposta para todas as coisas que acontecem, mas de uma coisa eu tenho absoluta certeza: Deus é bom e a sua misericórdia dura para sempre.

Rendei graças ao Senhor porque ele é bom, porque a sua misericórdia dura para sempre. Rendei graças ao Deus dos deuses, porque a sua misericórdia dura para sempre. Rendei graças ao Senhor dos senhores, porque a sua misericórdia dura para sempre; ao único que opera maravilhas, porque a sua misericórdia dura para sempre (...) Oh! Tributai louvores ao Deus dos céus, porque a sua misericórdia dura para sempre. Salmos 136:1-4, 26

segunda-feira, novembro 20, 2006

popstar

“Para isto se manifestou o Filho de Deus, para destruir as obras do Diabo” I João 3:8

O pai de um grande amigo meu de adolescência sofria de um estranho distúrbio. Acho que ele era médico hematologista que durante muitos anos trabalhou pesquisando e estudando sobre micróbios, bactérias, vírus e outros seres microscópicos que podem afetar a saúde humana. Porém, ao longo do tempo, ele desenvolveu uma fobia por sujeira e uma exagerada preocupação por limpeza tomou conta da sua vida. Ele passava mais de 10 horas por dia tomando banho. As tarefas normais do dia-a-dia como abrir uma porta, pegar um copo ou ligar uma TV ele só fazia usando luvas cirúrgicas. Parou de trabalhar e já não saia de casa. Todo o conhecimento adquirido voltou-se contra ele o fazendo escravo dos temores que ele mesmo pesquisava.

Tenho a mesma sensação quando vejo alguns cristãos falando tanto sobre o diabo e seus demônios. Batalha espiritual é um assunto instigante em que corações curiosos se inclinam com grande interesse. Livros são vendidos onde se relata com riqueza de detalhes sacrifícios macabros envolvendo vidas humanas. Outros se aventuram a traçar um mapa espiritual do Brasil detectando os principados de cada cidade ou estado do país. Sem perceberem, tratam o diabo como um popstar. Mas assim como aconteceu com o pai do meu amigo, muitas dessas pessoas são tomadas por um extremismo que os domina. Vêem o diabo por detrás das marcas de roupa, no pneu do carro quando fura e na lâmpada do quarto quando queima. Estão tão atentos ao diabo que esquecem do Senhor Jesus. Ficam preocupados com o derrotado e perdem a oportunidade de contemplarem o grande vencedor.

Com isso, não quero dizer que não existe um inimigo ou que não devemos “ignorar seus desígnios”( II co 2:7), porém a bíblia nos assegura que guerra já acabou. Satanás foi derrotado na cruz do calvário. O filho de Deus já ergueu sua voz proclamando: “Está consumado!” (Jo 19:30). A única coisa que a Igreja deve fazer com respeito ao diabo é permanecer firme: “Resisti-lhe (ao diabo) firmes na fé” (I Pe 5:9); “Revesti-vos de toda armadura de Deus para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo” (Ef 6:11) ou “Sujeitai-vos a Deus mas resisti ao diabo e ele fugirá de vós” (Tg 4:7).

Devo reconhecer que esse assunto ainda me atrai e que, muitas vezes, preciso buscar meus pensamentos que vagueiam em conjecturas sem propósito. A Palavra de Deus não nos encoraja a adentrarmos nesse terreno, muito menos em gastarmos tanto tempo pensando nas estratégias das trevas. É como aquela velha estória do agente da polícia federal especialista em detectar cédulas de dinheiro falsas. Um dia alguém perguntou: “Diante de tantos métodos de falsificação e tanto tipo de notas falsas que existem por aí, como você consegue perceber qual é a falsa?” Então ele respondeu: “É fácil. Eu conheço muito bem a nota verdadeira.”

Estejamos atentos. O Senhor Jesus é o nosso centro. Ele deve ocupar toda a nossa meditação. Ele é o motivo das nossas reuniões. O diabo já está julgado (Jo 16:11) não vamos dar crédito às suas tentativas de nos distrair com qualquer coisa que nos afaste do nosso Senhor. A obra de Cristo é tão completa e foi tão devastadora contra toda obra do diabo que a nossa principal tarefa nesta batalha é descansar no que já foi conquistado.

“para que pela sua morte (Cristo), destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo, e livrasse a todos que, pelo pavor da morte, estavam sujeitos à escravidão por toda a vida.” Hebreus 2:14-15



segunda-feira, novembro 13, 2006

49 degraus

“Tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança. Ora a perseverança deve ter ação completa para que sejais perfeitos, íntegros e em nada deficientes.” Tiago 1:3

Recentemente mudei para um novo apartamento. Eu e a minha esposa estamos muito felizes com o nosso novo lar. Porém existe um pequeno detalhe que precisamos nos readaptar: saímos de um apartamento que ficava no nível da rua e, agora, estamos morando no quarto andar de um prédio sem elevador. Na última visita da minha sobrinha, eu e ela fizemos questão de contar quantos degraus nos separavam da rua... contamos 49.

49 degraus me separam da lixeira pela manhã, quando tenho que descer com o lixo. 49 degraus me desesperam quando percebo que esqueci alguma coisa importante já dentro do carro para sair. 49 degraus me cansam quando chego da rua carregando caixas de leite e sacos de arroz. E como tudo que sobe tem que descer, são 98 degraus que preciso encarar para completar qualquer tarefa. Talvez alguém esteja achando que estou exagerando, mas em um sábado pra trás contei 11 idas e voltas pelas escadas o que, no final do dia deram 1078 degraus!

É óbvio que, por mais cansado que esteja, não ficarei dormindo na rua porque fiquei com preguiça de subir para o apartamento. Também nunca deixarei de trabalhar devido à escadaria. Infelizmente, não temos a mesma perseverança nas questões espirituais. A nossa preguiça espiritual nos prejudica imensamente, isso porque, existem alguns benefícios espirituais que só usufruiremos se estivermos dispostos a “subir alguns degraus”. Poderia citar vários como, por exemplo, acordar 30 minutos antes do horário normal para ter um tempo de oração e meditação antes de sair para o trabalho, separar um tempo para fazer o “culto familiar”, se oferecer para algum serviço entre os irmãos, evangelismo em hospitais ou uma visita a alguém que está precisando de atenção. Muitos não estão dispostos a pagar o preço e se recusam a subir a escada que nos leva ao poder espiritual e à consagração. Por causa de poucos degraus desanimam em tomar posse de bênção superiores e de experimentarem uma vida espiritual mais elevada. Vêem as dificuldades mas não conseguem enxergar o destino.

Apesar dos degraus, não me arrependo de ter mudado, ao contrário, estou aprendendo a conviver com a escada. Aquilo que no início parecia ser insuportável hoje não me incomoda mais. O que achava insuperável, não me derrota. A escada não mudou; todos os degraus continuam ali. O que mudou foi a minha mente, a forma como encaro esse detalhe do meu dia. Quando a minha sobrinha me chamou para brincar lá embaixo, disse pra ela que estava muito cansado e que não estava disposto a descer aquela escadaria enorme. Rapidamente, sem perder o ânimo, ela me respondeu: “Mas tio, são só 49 degraus.”

Um mesmo cenário com duas perspectivas completamente diferentes. Agradeço a Deus que usou uma garotinha de 06 anos para me ensinar a diferença que faz olharmos além das dificuldades presentes. Somente dessa forma somos capazes de transformar a murmuração em perseverança.

“É na vossa perseverança que ganhareis as vossas almas.” Lucas 21:19

segunda-feira, novembro 06, 2006

Ação libertadora

“Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta ali te lembrares de que teu irmão tem alguma cousa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão; e, então, voltando faze a tua oferta. Entra em acordo sem demora com o teu adversário enquanto estás com ele a caminho, para que o adversário não te entregue ao juiz, o juiz ao oficial de justiça, e sejas recolhido à prisão. Em verdade te digo que não sairás dali, enquanto não pagares o último centavo.” Mateus 5:23 – 26

A minha vida precisa, constantemente, ser lembrada que o mundo espiritual é mais real que o mundo físico que enxergamos. “não atentando nós nas cousas que se vêem, mas nas que se não vêem, porque as que se vêem são temporais e as que se não vêem são eternas” (II Co 4:18). Muitos exemplos poderiam ser enumerados para me fazer lembrar que atitudes e reações humanas também desencadeiam ações no mundo espiritual. O exemplo mais sublime que poderia citar é a simples confissão oral de um coração crédulo que reconhece o Senhorio de Cristo. Essa aparente inofensiva ação traz vergonha para milhares de seres imundos e rebeldes a Deus ao mesmo tempo em que produz uma celebração nos céus entre as miríades de anjos que testemunham, com alegria, o poder eficaz do sangue do Cordeiro em redimir mais uma alma da perdição. Porém meu pensamento de hoje é sobre outra ação libertadora: o perdão.

Desde a minha infância essa luta de reconhecer meu erro e pedir perdão me acompanha de perto. Tenho certeza que todo ser humano com um mínimo de bom senso, cristão ou não, se arrepende de atitudes feitas contra outros. O arrependimento acompanha a todos nós. Infelizmente o perdão não. Porque o pedido de perdão é a manifestação externa do arrependimento interno. Pedir perdão é provavelmente a primeira manifestação daquilo que Paulo chama de “obras dignas de arrependimento” (At 26:20).

O pedido de perdão é uma das armas mais avassaladoras que podemos usar contra a nossa carne. O nosso desafio é vencer a luta que travamos contra o amor próprio.Tentamos nos desculpar, buscamos algum argumento que nos convença e que resgate a paz perdida. O nosso orgulho rejeita intensamente se curvar diante de alguém que, muitas vezes, está mais errado do que nós.

É interessante notar que o Senhor Jesus usa a figura da prisão tanto para aqueles que não buscam reconciliação como para aqueles que não a aceitam (Mt 18: 23 – 35). Porque é justamente isso que acontece conosco quando não buscamos a pacificação: tornamo-nos prisioneiros do nosso passado. Acorrentados à nossa consciência que nos condena, acorrentados à nossa auto-piedade que nos atormenta com pensamentos malignos de auto-justiça e acorrentados ao ofendido. Quando pedimos perdão somos libertos de todas essas amarras e nos tornamos livres novamente. A nossa consciência encontra a aprovação do Espírito Santo, a nossa auto-piedade é subjugada e dá lugar à Cristo que é a nossa verdadeira justiça e, pelo menos da nossa parte, resolvemos a pendência com o ofendido antes que a situação chegue às mãos do reto Juiz. Uma simples palavra neste mundo, pode trazer grandes mudanças no mundo espiritual.

Apesar de já ter experimentado, tantas vezes, a benção do pedir perdão, ainda me é custoso o fazê-lo. Meu amor próprio tenta me proteger do remédio que lhe é amargo porém traz cura. Fico pensando naqueles que são mais próximos de mim. Será que tenho errado tão pouco com eles assim que quase nunca preciso pedir perdão? Penso na minha esposa e em tantas das vezes que a feri e não me importei. Em tantas das vezes que errei e esperei que o tempo nos reconciliasse. Hoje à noite, quando chegar em casa, pedirei perdão a ela por isso.