segunda-feira, setembro 25, 2006

Zelo

Na minha última visita ao mecânico, o carro voltou com outro defeito: a buzina parou de funcionar. Como não considero uma situação urgente, tenho esperado a próxima visita para arrumar esse pequeno problema. Ao longo desses 10 dias que estou sem buzina ela me fez falta. Por instinto, tentei buzinar em algumas situações porém sem sucesso. Em alguns momentos foi até bom. Foram situações em que tentei demonstrar a minha indignação com outros motoristas por julgar que estavam fazendo barbeiragens. Porém, teve outras situações que a buzina fez falta: tentei buzinar para um irmão para sinalizar aonde estava e ele não me viu; tentei alertar os outros motoristas da vinda de uma ambulância e também alertar um desavisado que estava dando ré em cima de mim. Percebi que a buzina faz mais parte da minha vida mais do que imaginava e ela pode ser usada tanto para o bem como para o mal.

A Palavra de Deus nos diz de um sentimento que, da mesma forma, é ambíguo. Às vezes esse sentimento é apresentado positivamente e outras vezes negativamente. Esse sentimento é o zelo (mesma palavra usada no original grego ‘zelos’). Esse sentimento é vinculado muitas vezes como um atributo do próprio Deus (Dt 5:9; Na 1:2; Is 9:7), o zelo dos Coríntios estimulavam a fé de muitas outras igrejas (II Co 9:2), Pedro diz que devemos ser zelosos do que é bom (I Pe 3:13). Porém, Paulo também cita a mesma palavra como uma obra da carne (Gl 5:20) – na minha versão é usada a palavra ‘ciúme’ e em Jó nos é dito que o zelo do tolo o mata (5:2).

Todos nós temos, em alguma medida, zelo por alguma coisa ou alguma pessoa. Podemos ter zelo pela família, dinheiro poder ou status. Mas a bíblia diz que podemos ter um zelo oriundo do próprio Espírito Santo de Deus que nos leva a conhecer o seu propósito eterno e tem poder para nos libertar de tudo o que é terreno.

Assim como a buzina, o nosso zelo pode ser usado negativamente: para trazer perturbação, briga e dissensões que são características que acompanham o zelo produzido pela carne humana. Não devemos achar que o zelo e o fervor são coisas ruins, ao contrário, devemos desejar ser tomados por um “ciúme santo” que nos leva a uma consagração total e sem restrições a Deus.

Sermos zelosos parece ser razoavelmente fácil, o difícil é percebermos qual é a fonte do nosso zelo e o que é que nos faz queimar de ciúmes. Aos de Laodicéia que perderam o foco do zelo correto, o Senhor Jesus Cristo aconselha:

“Sê pois zeloso e arrepende-te.” Apocalipse 3:19

Se eu pudesse parafrasear este texto (e que todos me perdoem pela ousadia) eu colocaria da seguinte maneira: “Se pois zeloso pelas coisas certas e arrepende-te do teu zelo pelas coisas erradas.” Cabe a nós escolhermos pelo que o nosso coração se envolverá.

“Porque onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração.” Mateus 6:21




segunda-feira, setembro 18, 2006

vinho e pão

“O solitário busca o próprio interesse, e insurge-se contra a verdadeira sabedoria.” Provérbios 18:1

“Deus faz que o solitário more em família.” Salmos 68:6


A solidão é uma das coisas que mais aflige o coração humano. A sensação de que a nossa vida está andando na direção contrária do mundo produz em nós insegurança e desânimo. Por outro lado, quando encontramos outras pessoas que compartilham dos mesmos idéias e pensamentos e nos encorajam a prosseguir, ficamos mais fortes do que de fato somos e avançamos. Falo isto porque neste último final de semana tive a oportunidade de conhecer e re-encontrar irmãos de outras cidades. Pude escutar experiências de perseguições, lutas, sofrimentos e vitórias. Mais uma vez percebi que não estou sozinho nesta jornada rumo à pátria celestial.

Dentro deste contexto, lembrei-me de Elias, poderoso profeta de Deus, que após uma incrível experiência no monte Carmelo (I Rs 18) aonde fez cair fogo do céu entrou em uma profunda crise e desânimo. Deus então o leva a um outro monte, Horebe, o monte de Deus (I Rs19:8). A desesperança de Elias talvez seja justificada pela sua solidão: “porque os filhos de Israel deixaram a tua aliança, derribaram os teus altares, e mataram os teus profetas à espada; e eu fiquei só”( I Rs 19:14) porém Deus, que conhece todas as coisas, corrige o pensamento de Elias e o encoraja: “conservei em Israel sete mil: todos os joelhos que não se dobraram a Baal e toda boca que o não beijou” (I Rs 19:18). Elias descobriu que não era único. Viu que sete mil fiéis anônimos também estavam trilhando o mesmo caminho. Após esse encontro Elias recobrou suas forças e prosseguiu até o dia em que uma carruagem de fogo o levou para junto de Deus.

A Ceia do Senhor é uma divina ocasião em que podemos testemunhar o fim da solidão. O apóstolo Paulo diz: “Porventura o cálice da benção que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo?: O pão que partimos não é a comunhão do corpo de Cristo?” (I Co 10:16). Quando partimos o pão, lembramos da obra do nosso Salvador Jesus Cristo. Lembramos do seu corpo partido e do seu sangue derramado. Lembramos que uma das conseqüências dessa obra é a nossa comunhão com os que são da família de Deus. Quando partimos o pão não celebramos a solidão, ao contrário, celebramos e discernimos o corpo espiritual de Cristo aonde todos os redimidos tornaram-se um só corpo e membros uns dos outros.

Satanás sabe que um cristão isolado torna-se um alvo fácil para seus ataques e enganos. O isolamento produz a solidão que produz a auto-piedade que produz orgulho que produz mais isolamento. Devemos estar bem protegidos, cobrindo uns aos outros em oração e mútua cooperação. Dessa maneira estaremos vigilantes diante das tentativas do diabo e estaremos dando um testemunho coerente diante da Mesa do Senhor. Outrora éramos indivíduos, antes éramos grãos de uva e feixes de trigo. Agora, porém, somos inseparáveis e indissociáveis. Através da obra do calvário nos tornamos vinho e pão.


“Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adeversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar; resisti-lhe firmes na fé, certos que sofrimentos iguais aos vossos estão-se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo.” I Pedro 5:8,9

segunda-feira, setembro 11, 2006

Oração de um profeta menor

“Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não são para comparar com a glória por vir a ser revelada em nós.” Romanos 8:18

Diante de algumas situações que perturbaram os meus pensamentos, o Senhor me levou a meditar, mais uma vez, em um texto de um livro chamado: Deus fala ao homem que mostra interesse escrito por A. W. Tozer.

Em especial no capítulo: Oração de um profeta menor, o irmão registra, em forma de oração, seus pensamentos em relação ao seu serviço. Comungando dos mesmos sentimentos e desejando repartir do mesmo encorajamento que tenho recebido que transcrevo abaixo um trecho deste capítulo:

“Está na hora ó Deus, de entrares em ação, pois o inimigo invadiu as tuas pastagens e as ovelhas foram destroçadas e espalhadas. Os falos pastores andam por toda a parte, negando o perigo e rindo dos riscos que o teu rebanho corre. As ovelhas estão sendo enganadas por esses mercenários e os seguem com lealdade tocante enquanto o lobo se aproxima para matar e destruir. Suplico-te ó Deus, dá-me olhos penetrantes para perceber a presença do inimigo; dá-me entendimento para observar e coragem para contar fielmente o que vejo. Torna a minha voz tão idêntica à tua que até mesmo as ovelhas doentes reconheçam e te sigam.

Senhor Jesus, aproximo-me de ti para receber preparo espiritual. Impõe sobre mim a tua mão. Unge-me com o óleo do profeta do Novo Testamento. Proíbe que me transforme num escriba religioso e perca assim meu chamado profético. Salva-me da maldição que paira sobre o clero moderno, a maldição da transigência, da imitação, do profissionalismo. Salva-me do erro de julgar uma igreja pelo seu tamanho, sua popularidade ou pelas somas que oferece anualmente. Ajuda-me a lembras que sou profeta – não um promotor, nem um administrador religioso, mas um profeta. Não permita que jamais me torne escravo da multidão. Cura minha alma das ambições carnais e salva-me da atração da publicidade. Livra-me da escravidão às coisas. Não permita que desperdice meus dias com trivialidades. Põe teu terror sobre mim, ó Deus, e leva-me para o lugar de oração onde possa lutar com os principados e potestades e com os senhores das trevas deste mundo.

E agora, Senhor dos céu e da terra, consagro o restante de meus dias a Ti; sejam eles muitos ou poucos, conforme a Tua vontade. Oro a Ti, portanto meu Senhor e Redentor, salva-me de mim mesmo e de todos os males que possa fazer a mim mesmo enquanto tento ser uma benção para outros. Enche-me com o teu poder pelo Espírito Santo, e na Tua força irei e anunciarei a tua justiça. Espalharei a mensagem do amor que redime enquanto tiver forças.”

segunda-feira, setembro 04, 2006

Ligamentos

“(...) e não retendo a Cabeça, da qual todo o corpo, suprido e bem vinculado por suas juntas e ligamentos, cresce o crescimento que procede de Deus.” Gálatas 2:19

Sofri um entorce no pé direito há um mês atrás. Ao longo desse tempo, venho passando por várias fases aguardando a recuperação completa do meu pé. Imediatamente após o entorce o pé inchou tanto que o meu tornozelo desapareceu. Nessa fase de dor aguda, não conseguia colocar o pé no chão. Ele estava completamente inutilizado. Após muito anti-flamatório, gelo e repouso, o meu pé foi desinchando porém ficou todo roxo. Apesar da sua fragilidade eu conseguia apoiá-lo no chão e já conseguia sair mancando por aí. Estou na terceira fase em que o pé já não está mais inchado nem roxo, e consigo quase andar normalmente. Pelo que tenho lido essa é a fase mais delicada da recuperação porque o pé aparentemente está bom porém os ligamentos ainda não estão cicatrizados e uma nova lesão pode ocorrer.

Nesses dias de fragilidade física pude meditar um pouco mais nessa verdade espiritual falada tantas vezes pelo apóstolo Paulo: a igreja como o corpo de Cristo. “Vós sois o corpo de Cristo; e, individualmente, membros desse corpo” (I Co 12:27). Sendo que Cristo é a cabeça: “Ele é a cabeça do corpo, da igreja” (Cl 1:18). E como acontece com o nosso corpo, todos nós temos funções: “conquanto muitos, somos um só corpo em Cristo e membros uns dos outro, tendo, porém, diferentes dons segundo a graça que nos foi dada” (Rm 12:5-6). Para que a igreja pudesse compreender seu papel na terra o Espírito Santo nos trouxe essa figura maravilhosa de unidade, harmonia, trabalho e dependência que deve nos acompanhar em toda nossa peregrinação.

Fiquei pensando em meu pé e de como não consigo fazer tudo que gostaria devido à sua fragilidade. Minha cabeça está ótima, o resto do meu corpo também. Porém alguns poucos feixes do tecido fibroso que reforçam meu tornozelo impedem que eu ande normalmente. Na minha cabeça ordeno que o meu pé faça um determinado movimento porém não sou obedecido. A lesão trouxe uma desarmonia em todo o meu corpo. Sobrecarrego demais a minha perna esquerda, não consigo fazer meus exercícios físicos para uma melhor saúde do meu corpo afetando assim o meu peso, humor e cotidiano. Como Paulo diz: “cooperem os membros, com igual cuidado, em favor uns dos outros. De maneira que, se um membro sofre, todos sofrem com ele” (I Co 12:25,26).

Penso que nosso problema não está na lesão em si mas na forma como nos recuperamos dela. Todos nós estamos sujeitos a torções e tropeços na nossa caminhada. Todo peregrino passa por momentos em que necessita de repouso e recuperação. O melhor a si fazer é buscar restauração completa. Às vezes a lesão é visível. O inchaço e os hematomas aparecem em um determinado membro e a única solução é a imobilização e o tratamento. Porém, o perigo maior está nas lesões ocultasm, mal cicatrizadas. Externamente não percebemos qualquer problema mas a lesão está lá. Agir como se não tivesse nenhum problema é um grande erro que manifestará graves conseqüências ao corpo futuramente.

Apesar de toda minha ansiedade em voltar a correr e ter uma vida normal, admito que ainda não estou preparado. Apesar do progresso, meu pé necessita de descanso para total recuperação. Para que no dia de amanhã meu corpo não sofra uma dor ainda maior devido à fraqueza dos meus ligamentos. Para que toda ordem da minha cabeça seja completamente obedecida pelo meu pé.

Essa preocupação com o meu corpo físico me adverte severamente sobre a minha função na igreja. Muitas vezes, preciso de tratamento e disciplina para uma completa restauração. Por várias vezes Deus tentou tratar as lesões no povo de Israel mas eles rejeitavam o tratamento preferindo a cura superficial das feridas (Jr 8:11). O Senhor Jesus não só deseja ser o meu Cabeça trazendo orientação e direção como também tem poder para me curar e restaurar-me completamente fazendo-me um membro útil ao Seu propósito.

A decisão está comigo.


“Estava ali um homem, enfermo havia trinta e oito anos. Jesus vendo-o deitado e sabendo que estava assim havia muito tempo, perguntou-lhe: Queres ser curado?” João 5:5,6

”Tu os feriste, e não lhes doeu; consumiste-os, e não quiseram receber a disciplina; endureceram os seus rostos mais do que uma rocha; não quiseram voltar.” Jeremias 5:3