segunda-feira, agosto 28, 2006

Trade-offs

“nem haja algum impuro ou profano, como foi Esaú, o qual, por um repasto, vendeu o seu direito de primogenitura. Pois sabeis também que, posteriormente, querendo herdar a bênção foi rejeitado, pois não achou lugar de arrependimento, embora, com lágrimas, o tivesse buscado.” Hebreus 12: 16,17

A vida de todo homem é construído em cima de escolhas. Algumas escolhas são pequenas e trazem um baixo impacto no curto prazo porém podem trazer conseqüências ao longo prazo. Por exemplo, se eu decido comer um pote de sorvete em um único dia, é provável que isso não altere a minha vida amanhã. Mas como serei daqui a dez anos se eu continuar comendo um pote de sorvete todos os dias? Será que isso afetará minha saúde? É claro que sim. Também existem as escolhas de médio prazo, como por exemplo a escolha de uma profissão. A decisão começa aos 17 anos aonde tenho que escolher entre dezenas de cursos. Essa decisão não mudará a minha vida imediatamente, mas com certeza afetará minha vida daqui a 05 ou 10 anos. Existem decisões que trazem um alto impacto imediato: quando dizemos “sim” no altar e nos casamos, quando aceitamos um emprego em outra cidade, etc. Mas de todas as decisões que um homem pode fazer creio que não existe uma decisão mais impactante do que quando entregamos nossa vida ao Senhor e nascemos de novo.

Assim como na vida natural do homem, a vida espiritual também é regida por nossas decisões. Não existe absolutamente nenhuma escolha que façamos que não trará algum impacto em nossas vidas, Paulo diz a Timóteo: “os pecados de alguns homens são notórios e levam ao juízo, ao passo que os de outros, só mais tarde se manifestam” (I Tm 5:24). João também diz: “Há pecado para morte e por esse não digo que rogue” (I Jô 5:16). Sem duvida, nossas decisões podem trazer um grave impacto agora ou no futuro, mas não nos enganemos: todas as nossas escolhas serão acompanhadas por suas conseqüências: “não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará” (Gl 6:7).

Falando rasamente, os administradores chamam de trade-off o momento crítico em que se deve optar por um caminho abrindo mão das vantagens e benefícios de qualquer outra opção. Por exemplo: uma pessoa não pode comprar um carro esportivo e econômico ao mesmo tempo, ele terá que escolher entre um carro veloz ou um carro de manutenção barata. Da mesma forma, um homem não pode ter uma vida de solteiro sendo casado. Ele terá que escolher um dos caminhos mesmo sabendo que existem boas oportunidades logo ali ao lado. Porém, ou é um, ou é outro.

De tantas histórias mencionadas na Bíblia, vemos histórias de tantos homens que fizeram boas escolhas e outros tantos que fizeram trocas desastrosas. Um desses foi Esaú; ele simplesmente trocou sua bênção de primogênito por um prato de lentilhas. Creio que ninguém com um mínimo de bom senso acreditaria que ele tenha feito uma boa escolha. Talvez o que aconteceu com Esaú aconteça conosco também. Pensamos que podemos ter tudo ao mesmo tempo, não avaliamos as perdas e os ganhos em nossas escolhas. Trocamos visando a satisfação do momento sem considerarmos o que isso pode acarretar no futuro.

Pensando em Esaú, fico mais consciente sobre a importância de fazer as escolhas certas. Quais são as trocas que tenho feito? O que tenho perdido e o que tenho encontrado? O que, de fato, para mim tem valor? Essas respostas devem ser respondidas através da Palavra de Deus iluminada pelo Espírito Santo. Ele é capaz de me conduzir pelas escolhas certas e de me mostrar o que tem valor eterno e o que, por melhor que pareça, não passa de um prato de feijão.



“Que aproveita ao homem, ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Que daria um homem em troca de sua alma?” Marcos 8:36,37

segunda-feira, agosto 21, 2006

Radicalismo cristão

“Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento.” Filipenses 4:8

A moça que ajuda a minha esposa em casa é um encanto de pessoa. Casada e mãe de três filhas ela é uma cristã fervorosa. E dentro de suas convicções sempre usa saia, não pode cortar o cabelo nem pode usar maquiagem. Não pode assistir televisão, ir ao cinema, teatro ou assistir um jogo de futebol no estádio. Seus cânticos, são exclusivos sendo proibido cantar qualquer outro tipo de música que não esteja no seu hinário. Sua doutrina, é um tanto exclusivista e extremamente dura com qualquer outro cristão que não tem os mesmos hábitos. Apesar das nossas divergências doutrinárias, não só aprendi a respeitá-la como passei a admirá-la. Admiro principalmente sua pureza; parece que ela vive em outro mundo. Não acompanha a novela das oito e não se curva às novas tendências do mundo da moda. Não conhece qual é a música mais tocada no radio nem tem curiosidade pela vida supérflua dos famosos.

Geralmente, quando convivo com pessoas como ela, tenho a tendência de ter um sentimento de superioridade. No meu coração, as rotulo como fanáticos exagerados e fico enaltecendo a minha visão “equilibrada” e o meu conhecimento doutrinário que me “protege” de posicionamentos radicais. Porém, apesar de todo o meu esforço em relativizar as coisas, reconheço que os ensinamentos bíblicos também são radicais. Uso como exemplo esse versículo de Filipenses citado acima. Quanto radicalismo! Aqui não existe meio termo: tudo que é respeitável, tudo o que é justo, tudo que é puro, tudo que é amável, tudo o que é de boa fama. A vontade de Deus para a minha vida é radical. E sei que devo responder com uma obediência simples e absoluta.

Fico lembrando da minha adolescência entre os cristãos. Sempre que algum jovem se destacava entre os demais pela consagração tendo um padrão acima da média de caráter e costumes era taxado negativamente como “radical”. Com isso, ninguém queria ser radical porque para nós era sinônimo de lavagem cerebral, uma pessoa sem vontade própria que está fanaticamente cega. Mas não tem jeito: Deus exige radicalismo. Nem todo radical é santo, mas todos os santos são radicais.

Ao longo da minha história como cristão, percebo que toda vez que experimentei um avivamento em minha vida espiritual, isso também produziu santificação e vice-versa. Desejo ser radical. Mas não baseado em um legalismo opressor que me afasta da graça divina e me leva ao terrível caminho da busca do mérito humano. Mas desejo aquele radicalismo característico do cristão apaixonado pelo Senhor e de tudo que é relativo ao seu reino. Que a minha aversão pelo que é imundo seja fruto de uma comunhão íntima com o Santo Espírito.

A lei diz: faze isto e viverás. A graça diz: porque vivo, faço isto.


“Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões; nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado como instrumentos de iniqüidade; mas oferecei-vos a Deus como ressurrectos dentre os mortos, e os vossos membros a Deus como instrumentos de justiça.” Romanos 6: 12,13

segunda-feira, agosto 14, 2006

Mutação

“Há caminho que ao homem parece direito, mas ao cabo dá em caminhos de morte." Provérbios 14:12


Recebi de um amigo uma notícia inacreditável: um canadense conseguiu trocar um clipe de papel por uma casa. Logicamente, ninguém trocaria uma casa por um simples clipe, o que esse esperto canadense fez foi realizar trocas aonde, no final, conseguiu chegar à casa.O clipe de papel foi trocado por uma caneta com forma de peixe. A caneta foi trocada por uma maçaneta de porta com desenho especial, a maçaneta por um fogareiro de acampamento e o fogareiro por um gerador. Dessa forma, ele foi trocando e trocando até chegar à uma casa na cidade de Kipling, Canadá.

Pensando nessa situação, lembrei-me da história de um homem justo chamado Ló. Porém, ao contrário do canadense, Ló foi fazendo péssimas trocas o que afetou diretamente seu triste fim. Vejamos algumas das suas trocas:
01) Quando Ló precisou decidir para aonde deveria morar. Ele não consultou a Deus, antes escolheu o lugar usando seus olhos naturais (Gn 13:10-11). Ele trocou o conselho de Deus pelo seu próprio conselho.
02) Ao escolher o lugar aonde moraria, Ló foi “armando suas tendas até Sodoma” e passou a conviver com pessoas más e grandes pecadores contra o Senhor (Gn 13: 12-13). Ló trocou a comunhão entre os santos (separou-se de Abraão) pelo convívio com incrédulos.
03) Ló não apenas passou a conviver com os sodomitas como se tornou um influente morador assentando-se à porta da cidade (Gn 19:1). Ló preferiu o prestígio e o reconhecimento do mundo às bênçãos celestiais.

As conseqüências foram terríveis como podemos constatar:
01) Ló não tinha autoridade entre os sodomitas, ao contrário, quando foi conversar com os homens da cidade, ele foi acusado de “querer ser juiz em tudo”.(Gn 19:9). Ou seja, ele era tido por chato e “santinho” demais.
02) Ló não tinha autoridade entre seus parentes. Seus genros escarneceram dele e não acreditaram quando ele os avisou da destruição que viria (Gn 19:14).
03) Ló não tinha paz: “porque Ló pelo que via e ouvia quando habitava entre eles, atormentava a sua alma justa, cada dia, por causa das obras iníquas daqueles” (II Pe 2:8). Lá no seu intimo, Ló sabia que aquele não era o seu lugar. Chama-me a atenção a expressão “cada dia”. Ao armar suas tendas até chegar em Sodoma, Ló acabou trocando “uma casa por um clipe de papel”.

Obviamente, a mutação que sofremos nunca é imediata, assim como o filho pródigo, podemos passar por um período de falsa paz e alegria, mas quando percebemos, estamos infelizes comendo o resto da comida dos porcos (Lc 15:14-16). É o cão que voltou para o seu próprio vomito. É a porca lavada que volta a revolver-se na lama (II Pe 2: 22). São as pequenas trocas que determinarão o que seremos futuramente.

Muitas vezes, não consigo discernir se tenho feito as melhores trocas. Tenho armado as minhas tendas para qual direção? Como será o fim da minha história? A história de Ló me adverte do perigo de sofrer essa mutação de tornar-me santo demais para os impuros e impuro demais para os santos. Infeliz é o cristão carnal. Não se sente à vontade nem entre os incrédulos nem entre os cristãos. Somente quando voltar à casa do Pai, recuperará sua dignidade e, finalmente, encontrará a paz perdida.

“E o filho disse: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. O pai, porém, disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa; vesti-o ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés; trazei também e matai o novilho cevado. Comamos e regozijemo-nos, porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado. E começaram a regozijar-se.” Lucas 15:21-24

segunda-feira, agosto 07, 2006

A corrida

“Desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos com perseverança a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o Autor e consumador da fé, Jesus.” Hebreus 12:1

Sempre gostei muito de praticar esportes. As minhas maiores disputas esportivas foram durante a minha adolescência nas olimpíadas colegiais. Vitórias inesquecíveis e derrotas vergonhosas me acompanharam ao longo desse tempo. Lembro-me de uma corrida que participei no campo de futebol do colégio. Era uma corrida de revezamento. Tínhamos que dar quatro voltas em torno do campo sendo que cada volta seria dada por um corredor. O “campão” estava cheio, todos os “primeiros anos” do colégio estavam lá presentes para assistirem a competição. Entramos na corrida sem muita expectativa, mas incrivelmente nos saiamos muito bem. Eu era o terceiro a correr pela nossa equipe e, quando recebi o bastão, já estávamos em primeiro lugar. Quando entreguei o bastão para o meu colega (que seria o último) estávamos com quase meia volta de vantagem. Só perderíamos se acontecesse uma catástrofe, e aconteceu. Na penúltima curva do campão, meu colega escorregou e caiu. Devido a grande vantagem, daria tempo de se levantar e ainda ganhar a corrida. Mas ele não o fez. Ficou sentado no chão com um risinho sem graça na cara pela vergonha que estava passando. Ficamos em último lugar, pior ainda, não chegamos a completar a corrida.

A Bíblia também usa a corrida como uma figura da peregrinação cristã sobre esta terra: o atleta precisa ser diligente na sua preparação (I Co 9:25); o atleta deverá pagar um preço para conseguir alcançar a meta (I Co 9: 26-27) o atleta receberá o prêmio ao chegar ao fim da corrida ( I Co 9:24) se, porém, respeitar as regras estipuladas (IITm 2:5). O escritor de Hebreus cita alguns pontos que podem atrapalhar o peregrino corredor terminar a carreira que está adiante. O pecado sem dúvida é um grande empecilho, ele nos faz errar o alvo e acabamos saindo da pista para corrermos em outras direções. O peso que o escritor menciona pode ser coisas legitimas que recusamos abandonar. Pode um atleta correr tranqüilo carregando uma televisão? Ou uma mala cheia de dinheiro? O conselho bíblico é muito claro: deixe para trás tudo aquilo que é peso e que dificulta na corrida, não carregue consigo. No final, não fará falta.

Porém, existe um terceiro ponto que o escritor de Hebreus apresenta que é ainda mais preocupante: a falta de perseverança. “nós somos a casa de Deus, se guardamos firme até ao fim a ousadia e a exultação da esperança”(3:6). Em outra passagem: “Porque nos temos tornado participantes de Cristo, se de fato guardarmos firme até ao fim a confiança que desde o principio tivemos” (3:14). E ainda: “Desejamos, porém, continue cada um de vós mostrando até ao fim a mesma diligência para a plena certeza da esperança para que não vos torneis indolentes, mas imitadores daqueles que, pela fé e pela longanimidade, herdam as promessas” (6:11-12). O apelo divino é para não pararmos no meio da corrida, mas que prossigamos até ao fim.

Fico pensando na lista dos chamados “heróis da fé” no capítulo 11 de Hebreus. Por que esses nomes estão lá? Nessa lista, é mencionada a respeito de Raabe, a prostituta. Gideão, que após fazer uma estola sacerdotal fez o povo prostituir-se. Baraque, que devido a sua covardia, perdeu a honra da vitória que foi passada a uma mulher. Sansão, de grande força física, porém de um fraquíssimo caráter. Davi, que após adulterar, matou o marido da amante para tentar ocultar o seu pecado. Porém todos eles não pararam, eles completaram a corrida. Apesar dos tropeços, eles continuaram até ao fim. E hoje, são exemplos para nós.

No colégio, fiquei frustrado com a nossa derrota. Tínhamos tudo para ganhar o prêmio naquela manhã e não ganhamos. Culpamos o nosso colega pela nossa derrota. Mas quanto a minha corrida rumo à Deus? Se eu parar ou desistir, a quem culparei? Mesmo tropeçando e caindo sei que não posso desistir “Sete vezes cairá o justo e se levantará” Pv 24:16. Não posso olhar para os meus pecados ou para qualquer homem senão não prosseguirei. Olharei firmemente para o autor e consumador da minha fé, Jesus. Porque sei que Ele está sempre pronto para me receber . Porque sei que Ele é o caminho a verdade e a vida. Porque sei que, quando encontrá-lo face a face, terei completado a minha carreira.


“Porque ainda dentro de pouco tempo aquele que vem virá, e não tardará; todavia o meu justo viverá pela fé, e: se retroceder, nele não se compraz a minha alma.” Hebreus 10:37-38